Eleita cidade literária em 2015 pela Unesco, deslumbra pela sua beleza e pelas tradições únicas que preserva desde os tempos medievais. Saiba o que fazer em Óbidos.
Um pouco da história
Em 1148, sob a espada da primeira dinastia portuguesa, Óbidos passaria a integrar terras portuguesas recuperadas aos mouros. A partir de então, a vila representou por diversas vezes parte do dote oferecido a diversas rainhas portuguesas, como por exemplo à Rainha Santa Isabel ou a D. Filipa de Lencastre.
Desde estes tempos, podemos mesmo afirmar que Óbidos pouco se alterou, mantendo o seu charme medieval, com fachadas enfeitadas com gerânios e buganvílias que, animam e dão vida às ruelas apertadas.
Os monumentos
1. Castelo de Óbidos
Considera-se que o ponto onde se ergue tenha sido ocupado já na pré-história e que por ali passaram lusitanos, romanos, visigodos e muçulmanos, responsáveis pela fortificação. “Mui nobre e sempre leal”, a frase que figura no brasão de armas da pequena vila, refere-se à lealdade com que apoiou a coroa portuguesa e com que resistiu aos assaltos das forças do Conde de Bolonha, mais tarde rei D. Afonso III, mantendo a sua fidelidade a D. Sancho I.
Aquando da crise de sucessão de 1383-85, o alcaide João Gonçalves colocar-se-ia do lado de João I de Castela e de D. Beatriz, resistindo portanto às tropas de D. João I, Mestre de Avis, o que lhe valeria a morte na Batalha de Aljubarrota. No século seguinte, serviria de morada de D. Leonor, que para ali se recolheu após a dor de enfrentar a morte do seu único filho.
O terramoto de 1755 comprometeria seriamente a sua estrutura, mas mesmo assim este castelo viria a ter um papel importante aquando da Guerra Peninsular, disparando-se daqui os tiros que causaram a primeira derrota das tropas de Napoleão, na Batalha da Roliça.
Tal como todo o conjunto urbano da vila, o Castelo de Óbidos está classificado como monumento nacional, tendo o castelejo na década de 40 do século passado sido requalificado como Pousada do Castelo.
Considerado uma das sete maravilhas de Portugal, encontra-se atualmente em excelentes condições e representa um ótimo exemplo de conjugação dos estilos românico, gótico, manuelino e barroco que o tempo preservou até hoje.
2. Igreja de Santa Maria
Principal templo religioso da vila de Óbidos, a Igreja de Santa Maria ergue-se sobre as fundações de um espaço de culto visigótico, mais tarde convertido em mesquita. Com construção iniciada ainda no século XII, tornou-se famosa ao servir de palco do casamento de D. Afonso V com D. Isabel em 1444, ainda com dez e oito anos, respetivamente.
Foi várias vezes restaurada, sendo predominante a presença do estilo renascentista. Destaque para os pormenores do teto e para as paredes cobertas de azulejos pintados à mão e originários do século XVII, bem como para as obras da autoria da pintora Josefa de Óbidos.
3. Igreja da Misericórdia
Fundada no século XVI por D. Leonor sobre a Capela do Espírito Santo, a Igreja da Misericórdia, junto aos antigos Paços do Concelho, representa um importante edifício na história de arte portuguesa, já que o seu portão, de 1596, se trata da primeira obra de arte barroca portuguesa no período renascentista e maneirista.
É aqui realizado o culto à imagem de Nossa Senhora da Paz, que terá constituído um presente da Rainha Isabel à antiga Capela do Espírito Santo e a que os fiéis de Óbidos são muito devotos.
4. Santuário do Senhor Jesus da Pedra
Porque nem tudo acontece dentro das muralhas da vila, aconselhamos vivamente uma visita ao Santuário do Senhor Jesus da Pedra, construído em 1747 em honra de D. João V e encarado como um dos mais interessantes edifícios barrocos portugueses, dada a sua estrutura hexagonal.
Alberga três capelas no seu interior: a do santuário, dedicado ao calvário, e as laterais, em honra de Nossa Senhora da Conceição e à morte de São José. Representou um importante ponto de peregrinação. Ao que se sabe, tanto a Rainha D. Leonor, como D. João V eram visitas assíduas do santuário, morada da imagem do Senhor Jesus da Pedra e à qual eram muito devotos.
5. Porta da Senhora da Piedade
Também é chamada a Porta da Vila de Óbidos e representa, de facto, a antiga entrada de Óbidos, única em todos os aspetos. Terá sido encomendada pelo rei D. João IV, num gesto de agradecimento pela restauração da independência em 1640 e no seu interior encontramos a Capela de Nossa Senhora da Piedade. Destaque para a varanda barroca e para a decoração com azulejos do século XVIII representando a paixão de Cristo.
6. Igreja de São Tiago
Localizada dentro das muralhas, destaca-se pelos estilos barroco e neoclássico, tendo sido construída em 1186 sob as ordens de D. Sancho. Foi mais tarde reconstruída após o terramoto de 1755, que a deixou praticamente arrasada.
7. Igreja de São Pedro
Igreja medieval fundada nos séculos XVII-XIX, mantém até hoje apenas os vestígios do antigo pórtico gótico da fachada, o altar em talha dourada e a torre com escadas em espiral, que resistiram ao forte abalo do terramoto de 1755.
Serve de local de sepultura da pintora Josefa de Óbidos, destacando-se ainda o retábulo barroco datado do século XVII, início do século XVIII de São Pedro a receber de Cristo as chaves do céu.
8. Aqueduto de Óbidos
Fora das muralhas, podemos apreciar o Aqueduto de Óbidos, também conhecido como Aqueduto da Usseira, lugar onde se inicia e percorre seis quilómetros até à vila.
Mandado construir por Catarina de Áustria, mulher de D. João III, representou a sua tentativa de modernizar Óbidos, que passou então a ser abastecida de água. Da totalidade do seu percurso, apenas conseguimos observar metade, já que os restantes três quilómetros se prolongam subterraneamente.
Óbidos e as atrações que não vai querer perder
Ao longo de todo o ano, qualquer pretexto para visitar esta romântica vila, em cujas ruelas as flores se sucedem. Percorra a muralha do século XIV, que cerca a vila e que proporciona vistas deslumbrantes.
Caminhe pela principal artéria da vila, a Rua Direita, e aprecie a pintura das casas, as portas pequenas, as janelas enfeitadas com flores, parando para saborear duas das mais famosas iguarias da vila – o chocolate e a ginjinha de Óbidos. Visite também a Livraria do Mercado Biológico, com prateleiras feitas a partir de caixas da fruta e onde a venda de livros se cruza com o comércio de produtos naturais.
Em abril, a vila acolhe a Feira Internacional de Chocolate, enquanto, em julho e agosto, vivem-se os dias recriando a atmosfera medieval, com o Mercado Medieval a assinalar a sua presença e a trazer consigo o traje a rigor e a cozinha daquela época. Poderemos, então, deslumbrar-nos com trovadores, jograis, dançarinos e aprender as artes de então ou, quem sabe, travar conhecimento com um verdadeiro cavaleiro andante.
Os meses de verão costumam também ser palco para a realização da Temporada de Música Clássica Barroca e para o Festival de Ópera. Setembro e outubro são os meses do Fólio, o Festival Literário Internacional de Óbidos e, em novembro e dezembro, regressa sistematicamente a Vila Natal, com Óbidos a vestir-se de luz, cor e fantasia, enchendo-se da magia e do encanto tão próprios do Natal.
Óbidos e os percursos pedestres
As rotas existentes são múltiplas. Desde a Rota Panorâmica à Ecovia da Lagoa, Caminho do Carteiro, Rota dos Ginjais e Rota do Aqueduto, entre outras, são muitas as opções para realizar percursos pedestres, limpar os pulmões e apreciar as magníficas paisagens.
Óbidos com a praia no horizonte
Mesmo ali ao lado, a menos de meia hora de automóvel, visite a Lagoa de Óbidos, uma das mais belas lagoas do nosso país que mantém o horizonte na Foz do Arelho. Trata-se de um excelente ponto para os apreciadores de desportos náuticos, representando o sistema lagunar mais extenso da costa portuguesa.
Também as praias do Bom Sucesso e Rei Cortiço são uma boa resposta para os dias mais quentes. A primeira fica entre a Lagoa de Óbidos e o mar, onde ambos se encontram. A segunda, com cerca de 11 quilómetros de extensão, faz a ligação à Praia do Baleal.
Óbidos à mesa
As caldeiradas são uma das apostas fortes na gastronomia de Óbidos que não deverá deixar de saborear, havendo mesmo quem percorra longas distâncias para provar estas iguarias. Sugerimos que aposte na caldeirada de peixe da Lagoa de Óbidos, numas enguias fritas ou mesmo num ensopado.
Nas sobremesas, as trouxas de ovos, as lampreias, os alcaides, as pegadas e os pastéis de moura são irresistíveis.
Para mais informações, visite:
> https://www.cm-obidos.pt/
> https://turismo.obidos.pt/site/percursos-pedestres/